domingo, 21 de abril de 2013

A República de Platão e os três graus de proximidade do conhecimento.



“Sócrates: Tomemos como princípio que todos os poetas, a começar por Homero, são simples imitadores das aparências da virtude e dos outros assuntos de que tratam, mas que não atingem a verdade. São semelhantes nisso ao pintor de que falávamos há instantes, que desenhará uma aparência de sapateiro, sem nada entender de sapataria, para pessoas que, não percebendo mais do que ele, julgam as coisas segundo a aparência?”
Glauco – “Sim”.
Fonte: PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1997. p.328.


                O excerto acima demonstra a concepção de que os imitadores não devem participar da vida pública, segundo a concepção de Platão. Isso se deve a concepção de que os artistas serviriam para enganar os homens, e não a levá-los à verdade. Daí Platão cria a escala de proximidade do conhecimento. 
                    Os  filósofos estariam mais próximos da verdade, a 1 grau. Portanto, estes deveriam governar.
                   Os artesãos, trabalhadores, aqueles conhecem o mundo apenas de modo prático, estariam a 2 graus da verdade. Estes poderiam ser apenas cidadãos, sendo ingnorantes demais para poderem governar.
                    Já os artistas, aqueles que fazem a mímesis, estariam a 3 graus da verdade. Desconheceriam de tal forma a realidade que tudo aquilo que fariam não passaria de mentira pura, enganação, sendo nocivos para toda a população e para por ordem na cidade. Deviram, portanto, serem expulsos da cidade, representando um perido para ela.
                 Assim seria composta a República de Platão. Um sistema político iluminado pela luz da filosofia.


               A metáfora da fogueira, por José Juarez de Almeida Filho.

              A sabedoria é a fogueira, donde a luz emana. O filósofo é o que se aproxima mais da verdade, do fogo, mas até um grau, não podendo entrar de fato na verdade, na fogueira, apenas se aproximando. Isto é a praxis.



             Os artesãos, aqueles que conhecem apenas as fagulhas do saber, ou que apenas usam na prática as teorias do conhecimento, como ferramentas para trabalhar, estes estão distantes de mais do conhecimento, mas usam um pouco deste. São como aqueles que usam o fogo para a forja, ignorando sua natureza. Estes estão a dois graus do saber. Estes são os que praticam a poesis.


     
              Os artistas não conhecem o fogo, apenas o viram, mas ignoram do que se trata o saber, o fogo, bem como não sabem qual a utilização que podem fazer do mesmo. Estes estão a três graus do saber e, na visão de Paltão, sua obra de nada serve para a sociedade, pois não passa de pura ilusão, ou mentira. Diferentemente dos antecessores, não há para a mímeses uma classificação de sua ação. Mais útil para a sociedade são os escravos, os trabalhadores, os que fazem o labor. Isto porque aquele que faz o labor soma para a produção material, já o artista em nada ajudaria, somente passando ilusões que desvirtuam a realidade.


             Sendo assim, somente os artesãos, aqueles que trabalham e produzem, que agem diretamente com o mundo, poderiam viver na República de Platão, que seria governada por filósofos. Os escravos estariam na cidade, sim, mas não seriam cidadãos, óbvio. Já os artistas, pintores, poetas, dramaturgos etc, por criarem representações falsas, por desencadearem nas pessoas emoções artificiais, fomentando idéias ilusórias, deveriam ser expulsos da cidade.


             Ou seja, não se deixe levar pelas aparências.

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