segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A eleição do medo.

Nestas eleições não se viu muitas convicções, não se acreditou em novos planos ou se defendeu velhas fórmulas. As pessoas não estavam dispostas a lutar por algo, seja novo ou velho. Os votos foram por medo.
                Nesse confabular, brigar, debater e amaldiçoar os argumentos foram agressivos. Como se suas vidas estivessem em jogo as pessoas travaram uma batalha. Nesse cenário dois medos distintos que se opuseram.
O primeiro medo foi o de perda das condições atuais, mudança para algo incerto, ou para um passado assustador. Temia-se a crise do que se vive, ou o retorno ao antes de se viver o momento atual. Não se tem um entendimento das bases atuais, de como se chegou ao que se tem ou como isso tudo pode ser mantido. Apenas, medo, medo de perder algo, ou que se pensa ser sólido, ou que já se sente perder.
                O segundo medo e parecido com o primeiro, mas na direção contrária. Teme-se a manutenção da atual situação. Sem medo do passado, mas medo do futuro. Um temor da manutenção de uma situação que se apresenta como má, desastrosa, alimentado por perspectivas nada otimistas. Medo do futuro caso uma alternativa não fosse apresentada, mesmo que esta nada de novo venha a acrescentar, e já ter tido sua chance para mostrar.
                Ambos os medos mobilizaram as pessoas, argumentos, xingamentos, ódios e verborragias. Numa realidade de incertezas o que se tem é o temor de um futuro de retorno ou de incertezas. Retorno de um sofrimento que se crê superado, ou de um terrível mal que ainda pode ser evitado.
                Fato é que esse país não superou as verdadeiras raízes do medo. As heranças coloniais, a posição econômica na geopolítica capitalista, os ranços do escravismo, a cultura não nacionalista, não progressista e de desprezo pela intelectualidade e cultura.
                Os medos podem ter suas justificativas mas suas causas são desconhecidas pelos eleitores. As vitórias sobre os inimigos, ou não, de nada serviriam para amenizar a crise iminente ou a paz esperada. A grande questão é que se teme o retorno do passado ou de um vindouro terrível futuro se esquecendo que no presente tragédias e vitórias se vivem, numa confusão de interpretações. Perdedores afirmam abandonar a pátria, vencedores se creem laureados com a alegria e felicidade. Crenças, ameaças e incertezas que nublam, e sempre nublaram, a verdadeira percepção da realidade neste país povoado por um povo volta e meia se indaga sobre sua condição e se depara com o medo.

Prof. Juarez.