Educação materializada:
indagações iniciais - Andréa Pires Rocha
O homem é sujeito em meio a relações
dialéticas e históricas, as quais envolvem questões políticas, econômicas,
sociais e culturais. Com o progresso da humanidade, acumula-se a prática
sócio-histórica, possibilitando o crescimento do papel específico da educação,
tornando a tarefa desta cada vez mais complexa “[...].
Otaíza
Romanelli (2002) chega a afirmar que a escola surge como instrumento para a
manutenção dos desníveis sociais. Salienta que a função desta foi a de manter
privilégios, pois a própria instituição se apresenta como privilégio da classe
dominante a partir do momento que se utiliza de mecanismos seletivos e de
conteúdo cultural que não propicia às camadas sociais, ao menos, uma preparação
eficaz para o trabalho. Portanto, educação para exploradores e explorados
acontece de forma diferenciada, propiciando a manutenção de tal divisão.
PRÉ-HISTÓRIA: aprendizagem mútua.
·
não existiam instituições educacionais.
·
o processo educativo tinha como instrumento a
transmissão entre os membros do grupo.
·
os objetivos da educação são resultados da
estrutura homogênea do ambiente social.
·
acontecendo de forma igualitária para todos os
membros.
ANTIGÜIDADE: transferência
de pais para filhos.
·
[...] com o desaparecimento dos interesses
comuns a todos os membros iguais de um grupo e sua substituição por interesses
distintos, pouco a pouco antagônicos, o processo educativo, que até então era
único, sofreu uma partição: a desigualdade econômica entre os “organizadores” –
cada vez mais exploradores – e os “executores” – cada vez mais explorados –
trouxe, necessariamente, a desigualdade das educações respectivas (PONCE, 1986,
p. 25).
·
nas cortes dos estados da Mesopotâmia e vale do
rio Nilo que nasce a escola como local para educação dos jovens.
·
Na Grécia e Roma antigas desenvolve-se partindo
de instituições de educação no interior da família.
·
manutenção da educação imposta pelas classes
dominantes
·
cumprimento de três finalidades essenciais:
o
a destruição dos vestígios da tradição inimiga;
o
consolidação da classe dominante;
o
prevenir uma possível rebelião das classes
dominadas.
·
tais finalidades não se modificaram com o avanço
da sociedade embora tenham adquirido características diferentes.
·
Conforme Pires (2003, p. 46-47), na sociedade
dividida em classes, a educação é utilizada para formar o “[...] homem limitado
e cerceado em suas possibilidades de enriquecimento: para o fortalecimento do
homem unilateral” Afirma ainda que, tal direcionamento perpassa a escola, pois
“[...] Tanto na escola como na vida, a educação burguesa é um instrumento de
dominação de classe, tendo seu poder localizado sobretudo na capacidade de
reprodução [...] adequadas à reprodução dos interesses e do poder burguês”
(PIRES, 2003, p. 47).
·
As escolas destinadas às classes dominantes são estratificadas:
o
Escolas para líderes políticos.
o
Escolas de pensadores.
o
Escolas para estrategos militares.
o
Escolas para grandes produtores rurais.
IDADE MÉDIA:
as classes “abastadas” pagavam mestres particulares para suas crianças.
·
período de desintegração e de reconstrução.
·
novos protagonistas em meio das relações
sociais.
·
A Igreja catequiza a cristandade.
·
Um “livre” acesso ao saber.
·
Um saber delimitado pela fé.
·
Limitado para a maioria.
·
Aprofundado para a elite.
·
Aprofundamento controlado pelos dogmas.
MODERNIDADE: século
XVIII nascem as primeiras escolas públicas estatais.
·
na transição da Idade Média para Moderna que se
passou a questionar a vinculação entre ciência e religião.
·
quatro períodos:
o
Renascimento: resgate de conteúdos antigos.
o
Racionalismo: elitização intelectual.
o
Empirismo: contestação da elitização.
o
Iluminismo: início da democratização do ensino.
§
Inicia-se com a Reforma.
§
Educação do fiel, do crente.
§
Orientação mais secular e nacional.
§
Nasce a educação pública;
§
Final do S. XVII se inicia a secularização.
§
Mantida pelo Estado.
·
caráter disciplinar e autoritário, tem como
principal objetivo a formação do súdito, em especial do militar e do
funcionário.
CONTEMPORANEIDADE: laicização,
democratização.
·
Revolução Francesa, 1789, união do povo francês
sob a liderança da burguesia.
·
nascem as primeiras reivindicações de direitos: o
direito à escola pública como responsabilidade do Estado.
·
Primeiros planos de instituição de escolas foram
pensados em 1763, visando a formação da inteligência por meio do ensino da
história e das ciências naturais.
o
Não visava atingir toda população, sendo,
inclusive contrária a educação propiciada aos trabalhadores, desenvolvida por
“irmãos das escolas cristãs”.
·
Influencia das Revoluções burguesas; democracia,
indústria, nacionalismo.
·
A educação, ou instrução, se torna NECESSIDADE
UNIVERSAL.
o
Para formar cidadãos.
o
Controlar as ideias.
o
Manter a ordem social.
o
Formar mão de obra e soldados.
o
·
LIBERALISMO E SOCIALISMO:
o
Laicização.
o
Apropriação das instituições públicas pela
burguesia.
o
Advento das escolas particulares (grande
reivindicação da elite brasileira).
§
Relega-se à escola pública uma baixa instrução –
proletariado.
§
Garante-se a educação elitizada e exclusiva nos
colégios particulares.
§
Criam-se instrumentos de seleção para as
universidades.
§
Exclusivismo censitário do ensino superior.
ESCOLA E SOCIEDADE:
·
Espelho da sociedade.
·
Continuação da vida familiar.
·
Conflito ideológicos e comportamentais.
·
Choque com tendências culturais e novas
tecnologias.
·
Desvio do propósito clássico aristotélico:
preparar as novas gerações para darem continuidade à sociedade vigente.
·
Transformada em nicho de mercado, legal e
ilegal: uniformes, materiais, moda, drogas.
A escola é o embrião da
sociedade.
Sociedades com boas escolas são
bem sucedidas, organizadas, desenvolvidas.
Sociedades com escolas ruins
refletem este modelo em problemas organizacionais, atraso tecnológico, subdesenvolvimento,
desorganização, violência.