Olá galera.
Esse excerto de O Banquete, de Platão, vem para saciar uma curiosidade
levianamente comentada em sala: a moral
dos pensadores antigos, sobretudo de Sócrates e Paltão. Não façamos uma
leitura preconceituosa, apesar de ser inevitável que alguns se riam do texto
que aqui se apresenta. Lembremos também que a moral grega antiga era muito
diferente da nossa moral judaico-cristã. O amor era para o grego um valor
elevado, algo superior que poderia tanto ser
como uma amizade sublime, ou como o afeto carnal, causa de muitos mau
entendidos, ou risos mesmo, quando comentados de maneira descontraída.
Bem,
independente de como você possa encarar esse aspecto da moral e da vida de
Sócrates, aí está uma curiosidade, a qual espero que seja compreendida por
vocês que se presta aqui para somar para com a nossa compreensão do mundo
antigo, e que não se preste ao preconceito e discriminação.
Prof. Juarez.
Eis aí,
senhores, o que em Sócrates eu louvo; quanto ao que, pelo contrário, lhe
recrimino, eu o pus de permeio e disse os insultos que me fez. E na verdade não
foi só comigo que ele os fez, mas com Cármides, o filho de Glauco, com Eutidemo,
de Díocles, e com muitíssimos outros, os quais ele engana fazendo-se de amoroso,
enquanto é antes na posição de bem-amado que ele mesmo fica, em vez de amante.
E é nisso que te previno, ó Agatão, para não te deixares enganar por este homem
e, por nossas experiências ensinado, tde preservares e não fazeres como o bobo
do provérbio, que "só depois de sofrer aprende".
Depois destas
palavras de Alcibíades houve risos por sua franqueza, que parecia ele ainda
estar amoroso de Sócrates. Sócrates então disse-lhe: — Tu me pareces, ó
Alcibíades, estar em teu domínio. Pois de outro modo não te porias, assim tão
destramente fazendo rodeios, a dissimular o motivo por que falaste; como que
falando acessoriamente tu o deixaste para o fim, como se tudo o que disseste
não tivesse sido em vista disso, de me indispor com Agatão, na idéia de que eu
devo amar-te e a nenhum outro, e que Agatão é por ti que deve ser amado, e por nenhum
outro. Mas não me escapaste! Ao contrário, esse teu drama de sátiros e de silenos
ficou transparente.
Pois bem, caro
Agatão, que nada mais haja para ele, e faze com que comigo ninguém te
indisponha. Depois destas palavras de Alcibíades houve risos por sua franqueza,
que parecia ele ainda estar amoroso de Sócrates. Sócrates então disse-lhe: — Tu
me pareces, ó Alcibíades, estar em teu domínio. Pois de outro modo não te
porias, assim tão destramente fazendo rodeios, a dissimular o motivo por que
falaste; como que falando acessoriamente tu o deixaste para o fim, como se tudo
o que disseste não tivesse sido em vista disso, de me indispor com Agatão, na
idéia de que eu devo amar-te e a nenhum outro, e que Agatão é por ti que deve
ser amado, e por nenhum outro. Mas não me escapaste! Ao contrário, esse teu
drama de sátiros e de silenos ficou transparente.
Pois bem, caro
Agatão, que nada mais haja para ele, e faze com que comigo ninguém te
indisponha.
Agatão
respondeu: — De fato, ó Sócrates, é
muito provável que estejas dizendo a verdade. E a prova é a maneira como
justamente ele se recostou aqui no meio, entre mim e ti, para nos afastar um do
outro. Nada mais ele terá então; eu virei para o teu lado e me recostarei.
— Muito bem —
disse Sócrates — reclina-te aqui, logo abaixo de mim.
— Ó Zeus, que
tratamento recebo ainda desse homem! Acha ele que em tudo deve levar-me a
melhor. Mas pelo menos, extraordinária criatura, permite que entre nós se
acomode Agatão.
PLATÃO.Obras incompletas. São Paulo: Nova Cultural.
1999. (Os pensadores) pp 100 - 101.
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