Construtivismo Estruturalista ou Estruturalismo
Construtivista
- Crítico mordaz dos mecanismos de
reprodução das desigualdades sociais.
- Admite que existe no mundo social
estruturas objetivas que podem coagir a ação e a representação dos indivíduos,
dos chamados agentes.
- Tais estruturas são construídas
socialmente assim como os esquemas de ação e pensamento, chamados por Bourdieu
de habitus.
- Os agentes sociais incorporam a
estrutura social, ao mesmo tempo que a produzem, legitimam e reproduzem.
- Os condicionamentos materiais e
simbólicos agem sobre nós (sociedade e indivíduos) numa complexa relação de
interdependência:
- a posição
social ou o poder que detemos na sociedade não dependem apenas do volume de dinheiro que acumulamos ou de uma situação de prestígio que desfrutamos por
possuir escolaridade ou qualquer outra particularidade de destaque.
- está na
articulação de sentidos que esses aspectos podem assumir em cada momento
histórico.
Concepção relacional da sociedade
A estrutura social é vista como
um sistema hierarquizado de poder e privilégio, determinado tanto pelas
relações materiais e/ou econômicas (salário, renda) como pelas relações
simbólicas (status) e/ou culturais (escolarização) entre os indivíduos.
Segundo esse ponto de vista, a
diferente localização dos grupos nessa estrutura social deriva da desigual
distribuição de recursos e poderes de cada um de nós.
Recursos ou
poderes:
Capital econômico (renda, salários, imóveis).
Capital
cultural (saberes e conhecimentos reconhecidos por diplomas e títulos).
Capital social
(relações sociais que podem ser revertidas em capital, relações que podem ser
capitalizadas).
Capital
simbólico (o que vulgarmente chamamos prestígio e/ou honra).
A posição de privilégio ou
não-privilégio ocupada por um grupo ou indivíduo é definida de acordo com o
volume e a composição de um ou mais capitais adquiridos e ou incorporados ao
longo de suas trajetórias sociais.
O conjunto desses capitais seria
compreendido a partir de um sistema de disposições de cultura (nas suas
dimensões material, simbólica e cultural, entre outras), denominado por ele
habitus.
- O gosto e as práticas de cultura
de cada um de nós são resultados de um feixe de condições específicas de
socialização.
- É na história das experiências de
vida dos grupos e dos indivíduos que podemos apreender a composição de gosto e
compreender as vantagens e desvantagens materiais e simbólicas que assumem.
- As práticas culturais são
determinadas, em grande parte, pelas trajetórias educativas e socializadoras
dos agentes.
- O gosto cultural é produto e
fruto de um processo educativo, ambientado na família e na escola e não fruto
de uma sensibilidade inata dos agentes sociais.
“Capital cultural incorporado”
Gosto e os estilos de vida seriam
uma questão de foro íntimo.
- gosto seria
o resultado de imbricadas relações de força poderosamente alicerçadas nas
instituições transmissoras de cultura da sociedade capitalista.
- essas
instituições seriam a família e a escola.
- seriam elas
responsáveis pelas nossas competências culturais ou gostos culturais.
De um lado,
chamou a atenção para o aprendizado precoce e insensível, efetuado desde a
primeira infância, no seio da família, e prolongado por um aprendizado escolar
que o pressupõe e o completa (aprendizado mais comum entre as elites).
De outro,
destacou os aprendizados tardio, metódico e acelerado, adquiridos nas
instituições de ensino, fora do ambiente familiar, em tese um conhecimento
aberto para todos.
Assim, a distinção entre esses
dois tipos de aprendizado, o familiar e o escolar, refere-se a duas maneiras de
adquirir bens da cultura e com eles se habituar. Ou seja, os aprendizados
efetuados nos ambientes familiares seriam caracterizados pelo seu
desprendimento e invisibilidade, garantindo a seu portador um certo desembaraço
na apreensão e apreciação cultural; por sua vez, o aprendizado escolar
sistemático seria caracterizado por ser voluntário e consciente, garantindo a
seu portador uma familiaridade tardia com a produção cultural.
Essas duas formas de aprendizado,
segundo Bourdieu, seriam responsáveis pela formação do gosto cultural dos
indivíduos.
Seria, especificamente, o que se
chamaríamos de “capital cultural incorporado”, uma dimensão do habitus de cada
um; uma predisposição a gostar de determinados produtos da cultura, por
exemplo, filmes, livros ou musica, consagrados ou não pela cultura culta; uma
tendência desenvolvida em cada um de nós, incorporada e que supõe uma
interiorização e identificação com certas informações e/ou saberes; um capital,
enfim, em uma versão simbólica, transvertido em disposições de cultura,
portanto, fruto de um trabalho de assimilação, conquistado a custa de muito
investimento, tempo, dinheiro e desembaraço no caso dos grupos privilegiados.
O descompasso educacional
Em uma sociedade hierarquizada e
injusta como a nossa, não são todas as famílias que possuem a bagagem culta e
letrada para se apropriar e se identificar com os ensinamentos escolares.
Alguns, os de origem social
superior, terão certamente mais facilidade do que outros, pois já adquiriram
parte desses ensinamentos em casa. Existiria uma aproximação e uma similaridade
entre a cultura escolar e a cultura dos grupos sociais dominantes, pois estes
há muitas gerações acumulam conhecimentos disponibilizados pela escola. Nesse
sentido, o sistema de ensino que trata a todos igualmente, cobrando de todos o
que só alguns detêm (a familiaridade com a cultura culta), não leva em
consideração as diferenças de base determinadas pelas desigualdades de origem
social. Bourdieu detecta então um descompasso entre a competência cultural exigida
e promovida pela escola e a competência cultural apreendida nas famílias dos
segmentos mais populares.